Exames: tempos de ansiedade

Ansiedade e exames, são duas palavras que se complementam. E no período em que nos encontramos, de final de ano letivo, esta é uma relação que ganha, naturalmente, uma maior relevância.

A ansiedade é, antes de mais, uma conjugação de processos neurofisiológicos. Estes representam uma espécie de equipamento de base do ser humano para lidar com o que é percebido como uma ameaça. Em suma, ficamos ansiosos porque precisamos. Concretamente, ficamos ansiosos porque “lemos”, “prevemos”, “imaginamos”, uma ou mais ameaças à nossa integridade e ao nosso bem-estar físico e psicológico.

No caso dos exames, diríamos que a ansiedade faz parte. Não serão propriamente uma ameaça, mas podemos pensar nestes momentos como um obstáculo. Que é necessário ultrapassar, e em que cada um poderá prever as consequências do seu próprio sucesso ou insucesso. Ou seja, a ansiedade é o sinal de que o indivíduo se está a preparar, física e mentalmente, para o momento em que vai ser “posto à prova”. E nesse sentido, estar ansioso é algo expectável. E pode até ser visto como um benefício, como de resto alguns estudos o sugerem.

Por outro lado, por vezes a ansiedade pode ganhar uma tal dimensão, que deixa de representar um benefício, passando então a ser altamente prejudicial. Se a ansiedade básica pode representar uma preparação para a ação, já a ansiedade excessiva é, muitas vezes, paralisante. Nestes casos, encontramos um sentimento de fundo de menos valia, ou de incapacidade, para enfrentar o que é sentido como um obstáculo. Este torna-se então intransponível, aterrorizante.

Não raras vezes, a pessoa “opta” (inconscientemente) por uma atitude de evitamento, por exemplo, não comparecendo aos exames. Em certa medida, este é um caminho compreensível: desta forma, estará a proteger-se de uma possível desilusão que a própria prevê ser demolidora, ou excessivamente penalizante. Nestes casos, a pessoa poderá nem sequer reconhecer a própria atitude de evitamento, que pode surgir associada a sintomas psicossomáticos (dores de barriga ou febre), indiciando questões psicológicas mais profundas, mas que permitem um evitamento sem culpa.

Como resultado de um sentimento generalizado de ansiedade, poderão surgir as denominadas crises de ansiedade, ou mesmo o que pode ser considerado um ataque de pânico.

Estas são situações limite, em particular os ataques de pânico, pois o indivíduo terá esgotado as suas capacidades para gerir e conter a própria ansiedade. Surgem então sintomas como o aumento do ritmo cardíaco e da respiração, dores localizadas, ou mesmo perda de consciência. Cria-se um efeito de “bola de neve”, não só no momento em que o episódio está a acontecer, mas inclusive posteriormente, por receio de que volte a acontecer. Este é um quadro que pode resultar em graves prejuízos pessoais e familiares, afetando negativamente a vida social e profissional.

Em qualquer dos casos, encontramos na base das situações de ansiedade excessiva ou generalizada, um sentimento de perigo iminente, mesmo que este pareça ser injustificado. Este é o sinal de que se esgotaram os recursos internos para lidar com determinadas áreas da realidade, sentidas como demasiado desafiantes. Este pode ser também o sinal de uma depressão profunda, dado que está instalada a descrença em si próprio, e inclusive de fazer projetos para o futuro. Será então necessário um confronto sustentado com os obstáculos que se lhe apresentam, muitas vezes e idealmente, com auxílio psicoterapêutico. Para que a pessoa sinta que é possível “estar à altura” das dificuldades do dia-a-dia. E projetar um futuro com mais saúde e liberdade.